Atualizado em: 5 de July de 2023
A harmonização entre Vinho e Música
O mundo do vinho realmente é uma caixinha de surpresas. Não te parece incrível pensar que sempre haverá um vinho para harmonizar com um prato de comida? E quando junta vinho e música em uma única experiência… O que acontece?
Enomusical é uma palavra que acabei de inventar para escrever esse artigo. Depois que fui picada pelo “bichivinho” (outra palavra inventada para o bicho do vinho, conhece?), nunca mais quis parar com as incríveis descobertas.
O mundo do vinho consegue mexer com os nossos cinco sentidos: visão, olfato, tato, paladar e audição. Em uma degustação sempre analisamos os aspectos visual, olfativo e gustativo. Agora vou contar que também há o auditivo.
Além da enogastronomia, harmonização entre vinho e comida (que particularmente eu adoro!), acabei de conhecer uma outra: a “enomusical”, ou seja, harmonização entre vinho e música.
Encontrei algumas curiosidades bem interessantes que envolvem a relação entre música e enologia e isso me leva a escrever mais de um artigo sob a mesma temática. Será mesmo que a música influencia na degustação de um vinho?
Tasting Notes
Por causa da pandemia, a indústria vinícola da África do Sul passou por grandes desafios, além do bloqueio nacional, houve proibições correspondentes ao álcool. Com isso, os produtores de vinho tiveram que se reinventar para começar 2022 com algo inusitado e diferente.
Estudos baseados na interação do som com o cérebro para mudar a percepção do gosto, foram o ponto chave para transformar a degustação vínica através da música. E, para atrair novos públicos para o consumo de vinho, foi isso que a Nedbank Group (apoio financeiro para a produção de vinho) e a Cape Winemakers Guild fizeram.
A música certa para apreciar um Cabernet Sauvignon
Essa parceria criou uma música capaz de ampliar os sabores de qualquer Cabernet Sauvignon. Aliás, esta variedade foi escolhida porque é uma das uvas mais disponíveis e reconhecidas no mundo todo.
Transformar o mapa de degustação em mapa de instrumentação
Então, primeiro, fizeram uma coleta de dados através da eletroencefalografia com música nos fones de ouvido. Com isso, conseguiram medir as respostas emocionais durante várias experiências sensoriais vínicas.
O mapeamento do som ao sabor foi traduzido em termos técnicos pelos enólogos da Cape Winemakers Guild. Por exemplo: o Frutado foi classificado como som de tom elevado. O Salgado de elevado a médio tom. A Acidez, de meio a baixo tom; e os taninos (ou o amargor), a um baixo tom. O resultado dessa experiência sensorial concluiu que a música melhorou as características de sabor do vinho.
Os elementos que inspiraram a composição
A composição, feita por Nil van Reenen e Simon Kohler, ocorreu através da captação de sons orgânicos das vinícolas. Ou seja, folhas ao vento, raspagem nos barris de carvalho dentro da adega, o gongo nos tanques de aço inoxidável, tilintar de taças de cristal e sopros. No estúdio, terminaram a composição.
O resultado? Você mesmo pode provar: basta abrir o seu Cabernet Sauvignon e apertar o play no seu Spotify. Ou confira o vídeo no final do artigo.
Playlists para degustar o vinho
Outros países lançaram campanhas focadas em playlists para cada momento e variedade de vinhos. Esta é uma tendência e uma boa estratégia para atrair mais consumidores para o vinho.
Para dar ênfase na cultura local, bem como no talento musical feminino do país, a Uruguay Wine reuniu três DJs uruguaias para a curadoria do projeto Stories to Listen. Cada uma montou a sua playlist.
Stories to Listen para desvendar os sons do Uruguai, degustar seus deliciosos vinhos e aproveitar o momento:
- Above the Horizon – DJ Sofia Supervielle: para apreciar um Alvarinho, Sauvignon Blanc ou um rosé. Assistir o sol se pondo no litoral uruguaio. O astral da playlist é bem descontraído e combina muito com os dias do verão e amigos.
- At Ease – DJ Paula Drexler: para apreciar um típico Tannat uruguaio (ai, que saudade!) e uma boa conversa em frente à lareira. Nesta playlist há a vibração do tango, folk e candombe, entre outras heranças musicais uruguaias.
- At Rhythms – DJ Sofía Bastos: para apreciar um Pinot Noir, Marselan ou Cabernet Franc em dia de celebração, festa e muito alto astral. A playlist foi feita para dançar, com muita batida de sons latino-americanos, uruguaios, candombe e música brasileira.
Concha Y Toro – vinhos Frontera
Já a Concha y Toro, em 2019, criou uma campanha em suas redes sociais com o mesmo intuito através de um concurso. O seguidor tinha que dizer qual era a música perfeita para acompanhar os vinhos Frontera e o vencedor ganhava um ano de Spotify Premium de presente.
Contudo, a própria playlist já vinha impressa no rótulo da linha Frontera. Aliás, é a mais vendida nos Estados Unidos a ponto de ter sido o principal vinho no Grammy Latino de 2021!
A campanha Wine & Music Pairing Guide sugere para cada estilo musical, uma casta de Frontera:
- Rock: dirty riffs taste better with Frontera Cabernet Sauvignon;
- Pop: follow the rhythm with a fresh and vibrant with Frontera Sauvignon Blanc;
- Folk: feel the warm notes of a classic guitar with a Frontera Carmenére;
- Jazz: shake your soul with deep sounds and Frontera Merlot.
Se a enogastronomia já era demais, adicionar música à essa experiência fica melhor ainda!
E de tudo o que acabei de contar, sabe o que é mais importante?
Deixar que os cinco sentidos combinem o vinho, a comida, a música com pessoas que você gosta. É assim que se harmoniza momentos inesquecíveis!
Vejá também: Remuage, a técnica que revolucionou a história de Champagne
Roberta Ortolan
Co-fundadora
Mestra e Doutoranda em Ciências da Cultura,
graduada em Artes, Sommelière ABS-SP/ASI.