Apesar da menor produção e consumo, o valor das exportações de vinho se manteve elevado em 2024
No contexto de uma safra historicamente baixa e de uma queda acentuada no consumo global, os dados do relatório da OIV 2025 revelam um paradoxo: o comércio internacional de vinhos manteve em 2024 um valor elevado, sustentado por preços médios recordes.
Enquanto o volume exportado permaneceu em 99,8 milhões de hectolitros (mhl), o valor total atingiu 35,9 bilhões de euros, com um preço médio de 3,60 €/litro, igualando o recorde de 2023.
Essa tendência revela o fortalecimento da chamada “premiumização” do vinho: menos volume, mais valor por litro. Isso é resultado tanto da escassez provocada por condições climáticas quanto de uma estratégia comercial de valorização de produtos com maior diferenciação, qualidade percebida e apelo de origem.
A nova equação: menos vinho, maior valor
Desde o início dos anos 2000, a tendência de crescimento do valor médio do vinho no mercado internacional se intensificou. A combinação entre estoques mais enxutos, custos de produção mais altos e a busca por vinhos com identidade clara (de terroir, certificados, sustentáveis) reforçou esse movimento.
Em 2024, o volume de exportação permaneceu 5% abaixo da média dos últimos cinco anos, mas o preço médio sustentou-se como fator-chave. As exportações estão cada vez mais baseadas em vinhos engarrafados e espumantes, que representaram 67% do valor total, mesmo com queda leve no volume.
Que tipo de vinho sustenta esse mercado?
O mercado internacional de vinhos em 2024 foi claramente impulsionado por categorias que agregam mais valor por litro. Vinhos engarrafados e espumantes lideraram tanto em volume quanto em valor.
Contudo, o vinho a granel e o bag-in-box mantiveram presença mais discreta, embora relevantes em termos de volume.
O gráfico a seguir apresenta a distribuição percentual do volume exportado por tipo de vinho, com base nos dados oficiais da OIV.
Adaptado de State of the World Vine and Wine Sector in 2024 – OIV 2025.
Essa visualização confirma a tendência de concentração nos segmentos de maior valor agregado, como os vinhos engarrafados e espumantes, que sustentam a estratégia de valorização do setor.
Além do volume, é na distribuição do valor gerado que os segmentos premium mais se destacam. Em 2024:
- Vinhos engarrafados foram responsáveis por impressionantes €24 bilhões, correspondendo a cerca de 67% do valor total exportado;
- Espumantes geraram aproximadamente €8,5 bilhões (23,8% do valor total);
- Granel contribuiu com apenas €2,7 bilhões, mesmo representando 34,7% do volume;
- Bag-in-box somou pouco mais de €0,7 bilhão.
Esses números evidenciam como a premiumização está ancorada em categorias de maior valor por litro, não apenas em volume exportado. O desafio (e a oportunidade) está em continuar agregando valor, mesmo com um mercado global mais retraído.
Principais Exportadores de Vinho em 2024
Com o valor das exportações sustentado por produtos de maior qualidade, o mapa do comércio internacional do vinho em 2024 passou por ajustes significativos.
Embora o volume total exportado tenha se mantido estável, o comportamento dos principais players — tanto exportadores quanto importadores — reflete um realinhamento estratégico diante da nova lógica de mercado pautada pelo valor agregado.
Entre os exportadores, a Itália consolidou sua liderança global em volume (21,7 mhl), com destaque para o crescimento nas exportações de espumantes, que ganharam espaço mesmo com a redução geral de produção.
A França, tradicionalmente associada à excelência e origem controlada, manteve sua liderança absoluta em valor, com €11,7 bilhões, apesar da queda em volume.
Chile e Austrália, após retrações em 2023, mostraram forte capacidade de adaptação: investiram em acordos comerciais com mercados alternativos e diversificação de portfólio, o que resultou em recuperação significativa.
O gráfico abaixo apresenta os principais países exportadores de vinho em 2024, com destaque para o valor monetário das exportações:
Adaptado de State of the World Vine and Wine Sector in 2024 – OIV 2025.
Principais Importadores de Vinho em 2024
No grupo de importadores, os Estados Unidos continuam como maior mercado em valor absoluto, mesmo com uma ligeira contração no volume importado — sinal de que o país está comprando menos, porém vinhos de maior valor.
O Reino Unido, um dos mercados mais sensíveis ao preço médio, retomou crescimento em volume, refletindo ajustes de fornecedores em preços e posicionamento.
A China protagonizou a maior reviravolta de 2024: após seis anos consecutivos de queda, voltou a importar mais (+13,7% em volume) e gastar mais (+37,6% em valor), sugerindo uma reconfiguração de gosto e abertura a rótulos internacionais com apelo premium.
O gráfico a seguir mostra os principais mercados importadores de vinho por valor em 2024:
Adaptado de State of the World Vine and Wine Sector in 2024 – OIV 2025.
Esse novo equilíbrio revela que o vinho está deixando de ser um simples produto de consumo para se firmar como bem simbólico e identitário, cada vez mais avaliado por sua origem, método de produção e discurso de sustentabilidade.
Para produtores que apostam em diferenciação, storytelling e conexão cultural com o consumidor, as perspectivas seguem otimistas — mesmo em um cenário de retração geral de consumo.
Próximo artigo da série: Quem Compra e Quem Vende?
No próximo artigo, vamos explorar os fluxos globais do vinho: os maiores exportadores, os principais mercados importadores e as mudanças geoeconômicas do setor.
Perdeu os artigos anteriores da série?
Descubra os principais destaques do Relatório OIV 2025 nos artigos já publicados:
- Artigo 1 – A Menor Safra em 60 Anos
- Artigo 2 – O Declínio Silencioso das Vinhas no Mundo
- Artigo 3 – Vinho em Queda