A Viticultura tem deixado sua marca nas Emissões de Carbono. Entenda o que influencia sua intensidade e por que isso importa para o futuro climático do vinho.
A viticultura é uma atividade que une tradição, terroir e tecnologia. Mas por trás da elegância de uma taça de vinho, há também um sistema produtivo que emite gases de efeito estufa (GEE) e contribui para as mudanças climáticas.
Este é o ponto de partida da série Pegada de Carbono na Viticultura, que busca revelar os desafios e soluções para tornar o vinho um produto cada vez mais alinhado à sustentabilidade.
Onde estão as Emissões de Carbono na Viticultura?
A produção de uvas e vinhos envolve diversas etapas, insumos e tecnologias que, direta ou indiretamente, resultam na liberação de gases com efeito de estufa (GEE).
Desde o uso intensivo de fertilizantes e combustíveis até a forma como o solo é manejado. As fontes de emissão são múltiplas e variam conforme o tipo de viticultura adotada.
Os cinco principais responsáveis pelas emissões de GEE na viticultura incluem:
Um levantamento de base europeia (Life ADVICLIM) demonstrou que o manejo do solo e o controle de pragas representam mais de 50% das emissões de carbono pegada de carbono nas explorações vitícolas convencionais.
A depender da intensidade do sistema, as emissões podem ultrapassar 4,5 Mg CO₂-eq/ha/ano, e podem variar significativamente, oscilando entre 0,3 e 25 Mg CO₂-eq/ha/ano. Sendo que os valores mais altos estão associados a vinhedos convencionais com fertilização nitrogenada mineral, irrigação intensiva e mecanização elevada.
Sistemas com perfil conservacionista apresentam emissões entre 5 e 10 Mg CO₂-eq/ha/ano, enquanto vinhedos regenerativos podem operar com emissões entre 1,5 e 3 Mg CO₂-eq/ha/ano.
O gráfico a seguir apresenta uma visão simplificada das faixas médias de emissão de carbono na viticultura por tipo de manejo, com destaque para os valores mínimo e máximo estimados:
Fonte: Análise de estudos científicos sobre emissões de carbono na viticultura (2016–2024)
Práticas com maior impacto nas emissões de carbono na viticultura
As fontes de emissão citadas anteriormente não têm o mesmo peso no resultado final. A fertilização nitrogenada sintética, por exemplo, é considerada a principal responsável pelas emissões de N₂O e recebe peso 3 na avaliação de impacto.
O uso de tratores movidos a diesel por mais de 100 horas por hectare por ano também possui peso 3, refletindo sua alta contribuição para as emissões de CO₂.
Práticas como irrigação com energia fóssil, mobilização profunda do solo e uso intensivo de pesticidas sintéticos têm peso 2, enquanto fatores logísticos, como a distância entre a vinha e a adega, recebem peso 1. Essa categorização ajuda a priorizar intervenções mais eficazes na gestão do carbono na viticultura.
A variabilidade entre vinhedos é significativa e depende de múltiplos fatores estruturais e ambientais. Climas distintos (temperado, mediterrânico ou árido), diferentes tipos e profundidades de solo, práticas de manejo (como a viticultura orgânica, biodinâmica ou convencional).
Por sua vez, a intensidade de mecanização, uso de irrigação e logística de transporte e embalagem, também moldam o perfil de emissões de cada sistema produtivo.
Como exemplo, sistemas orgânicos com coberturas vegetais e tração animal podem emitir menos de 2 Mg CO₂-eq/ha/ano. Já vinhedos altamente mecanizados, irrigados e com fertilização sintética intensiva podem ultrapassar 6 Mg CO₂-eq/ha/ano.
Contudo, as práticas regenerativas têm demonstrado impacto relevante na redução das emissões líquidas por unidade de produção. O uso de compostos orgânicos, a diminuição do revolvimento do solo e a adoção de energia renovável nas adegas, têm sido associados a melhores resultados ambientais, inclusive em vinícolas já em transição ecológica.
O custo invisível do vinho
As emissões de GEE na produção do vinho não se limitam ao vinhedo. A pegada de carbono estende-se à produção de garrafas, rolhas, rótulos e transporte. No ciclo completo do vinho, o vinhedo representa entre 15% e 30% das emissões totais, a depender do sistema.
Esse custo invisível impacta não apenas o clima, mas também a saúde do solo, a biodiversidade local e a resiliência da vinha. Mudanças no calendário fenológico, aumento de eventos climáticos extremos e pressão de pragas estão entre os efeitos mais documentados.
Rumo a uma viticultura de baixo carbono
Apesar dos desafios, o setor vitivinícola tem mostrado capacidade de adaptação. Muitas vinícolas já adotam estratégias de mitigação que incluem:
Além disso, certificações como a Sustainable Winegrowing (EUA), Vignerons en Développement Durable (França) e iniciativas como o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (Portugal) incentivam o monitoramento de emissões e a implementação de boas práticas.
Uma agenda que começa no conhecimento
A redução da pegada de carbono na viticultura depende de decisões técnicas, políticas e culturais. O primeiro passo é reconhecer onde estão os principais focos de emissão e como transformá-los em oportunidades de inovação.
No próximo artigo da série Pegada de Carbono na Viticultura, vamos explorar justamente o lado positivo da equação: como os vinhedos podem Sequestrar Carbono, regenerar o solo e se tornar aliados ativos no combate às mudanças climáticas.
Referências
Adoir, P., Penavayre, S., & Quénol, H. (2020)
Brunori, E., Farina, R., & Biasi, R. (2016)
Cech, T., Leisch, F., & Zaller, J. G. (2022)
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Leia também: Enrelvamento – Cuidados com o solo da vinha