Malbec – Da França para o mundo

Atualizado em: 5 de July de 2023

Malbec - a França para o Mundo
Foto: Getty Images iStockphoto

A globalização da Malbec

Como estamos na semana do Dia Mundial da Malbec, pensamos que seria interessante mostrar alguns pontos importantes sobre ela. 

Mas antes de dar início, gostaria de ressaltar que se você não sabe o porquê de existir um dia especial da Malbec, leia nosso post (clique aqui) onde explicamos tudo!

Para início de conversa: qual a origem dessa emblemática uva?

É originária de Quercy, antiga província francesa, às margens do rio Lot em Cahors, onde é conhecida como Côt ou Auxerrois. 
 
Esta uva é resultado de um cruzamento entre a Magdeleine Noire des Charentes (variedade de uva de mesa muito conhecida na Idade Média) e Prunelard (antiga variedade de Gaillac, cidade do sul da França, onde ainda pode ser encontrada).
 
Tudo indica que a partir de 1789, o viticultor húngaro, Monsieur Malbeck. foi quem introduziu a uva em Saint-Eulalei d’Ambarès, em Gironde.
 
Entretanto, para Pierre Galet, outro viticultor e ampelógrafo, apontou que a maioria das evidências sugeria Côt como o nome original da variedade e que, provavelmente, sua origem teve início no norte da Borgonha.

Curiosidade: você sabia que a Malbec recebe vários nomes conforme sua região? 

Pierre Galet documentou por volta de mil sinônimos diferentes para esta variedade, pois ela cresceu em trinta “departamentos” franceses, por exemplo:

  • Borgonha: Auxerrois;
 
  • St. Emilion: Pressac;
 
  • Bordeaux: Médoc Noir;
 
  • Demais nomes: Griforin, Gros Noir, Prolongeau (entre outros).
 

A Malbec é uma casta que apresenta versatilidade na produção de vinho de acordo com o terroir em que está inserida, mostrando características diferenciadas por países.

França

Cidade de Cahors na França
Cidade de Cahors na França | Getty Images/iStockphoto

Cem anos após o ataque da filoxera, que quase dizimou os vinhedos na Europa, a cidade de Cahors sofreu com um rigoroso inverno que castigou novamente os vinhedos da região em 1956. 

O número de videiras diminuiu drasticamente mesmo após a replantação da uva. Cahors  é a única região com Apelação de Origem Controlada (AOC) para varietal Malbec e para corte, o blend deve conter, no mínimo, 70% da sua uva misturado com a Tannat e a Merlot para compor o percentual restante. 

As vinhas devem ser cultivadas nas encostas do rio Garonne para que seus vinhos mantenham o excelente potencial de envelhecimento. 

Fora de Cahors, a Malbec pode ser encontrada em quantidades reduzidas e com variedade permitida em outras AOCs francesas, como em Bordeaux, por exemplo, a produção de vinhos bordaleses pode conter uma proporção reduzida de Malbec em seus blends.

  • Perfil sensorial: cor escura, boa acidez, taninos firmes e bem estruturados. Sabor de frutos maduros (ameixa, mirtilo) e mineralidade. Aroma de couro e groselha.

Argentina

Malbec - Bodega Catena Zapata
Bodega Catena Zapata | img: Catena Zapata

Já no país dos hermanos, esta casta se tornou uma “variedade nacional” devido ao pedido do governador de San Juan, Domingo Faustino Sarmiento, para o agrônomo francês, Michel Aimé Pouget, que levasse as mudas de videiras francesas do Chile (Quinta Normal) para a Argentina. 

Esta quinta chilena foi influenciada pela Escola Normal de Paris para estimular a agricultura na região e a intenção do governador era que Pouget fizesse o mesmo na Argentina. 

Ou seja, ter uma fazenda experimental em Mendoza análoga à quinta chilena. Então, Pouget levou várias mudas de castas francesas para Mendoza e a primeira Malbec foi plantada em 1852. 

Devido à crise econômica que o país passou no início do século XX, muitas videiras de Malbec deram lugar ao cultivo da casta Crioula para a produção dos vinhos de garrafão, contudo, no final do século XX, a Malbec ressurge para a exportação de vinhos de qualidade premium. 

Foi então que a uva ganhou destaque pelo mundo como a mais emblemática do país. Sem dúvida é a variedade mais cultivada na Argentina tornando-a a maior produtora mundial de Malbec. Só em Mendoza, 85% da produção vitícola é desta uva. A França ocupa a segunda posição.

Vinhos de altitude

A primeira Denominação de Origem Controlada (DOC) da América e de Malbec está em Luján de Cuyo, Mendoza. Aliás, o vinho desta região, e do Vale do Uco, é mais valorizado porque é produzido em grandes altitudes, entre 800 e 1500 metros acima do nível do mar. 

Isso porque a intensidade e abundância solar nos vinhedos de altitude possibilita o completo amadurecimento da vinha, resultando em uvas com muita expressividade na sua cor e sabor. Nas regiões de altitude, castas com maior acidez e aromas relevantes.

  • Perfil sensorial: cor escura, textura aveludada e taninos maduros. Sabor intenso de frutos frescos (cereja, ameixa). Aroma de chocolate, tabaco, folhas secas. Também apresenta excelente potencial para envelhecimento.

     

Estados Unidos

Malbec - Napa Valley
Napa Valley | img: vinhosdeviagem.com.br
A Malbec era uma variedade muito expressiva na Califórnia antes da Lei Seca nos Estados Unidos. Esta lei baniu nacionalmente a fabricação, transporte e venda de bebidas alcoólicas para consumo entre 1920 e 1933. 
No início da década de 1990, a uva passou a ser interessante para os blends do estilo bordalês, havendo um crescimento significativo do cultivo de Malbec na Califórnia. No período de 1995 a 2003, as plantações que eram em torno de 404 hectares e passaram para 2.830 hectares.
 
Há vinho Malbec varietal na Terra do Tio Sam, contudo esta casta continua sendo utilizada para os blends com outras uvas como a Cabernet Sauvignon e a Merlot. 

Na Califórnia, a sua denominação de origem é chamada de American Viticultural Area (AVA) e as AVAs onde a maior parte de Malbec é cultivada estão localizadas em Sonoma Valley, Napa Valley, Paso Robles e Alexander Valley. Oregon e Washington também são outras regiões em que há o seu cultivo.

  • Perfil sensorial: cor rôxa escura, taninos elegantes. Notas picantes, nuances de chocolate, cedro, especiarias e frutos maduros escuros.

     

Malbec em Portugal e em outros países…

Sabe-se que o clima influencia no sabor da casta. Notas de frutos vermelhos, como a cereja, por exemplo, provém de regiões com temperatura mais fria. Já as de frutos escuros, como o mirtilo, de regiões com temperatura mais quente.

São países produtores de Malbec: Chile, Brasil, Nova Zelândia, Austrália, Canadá, África do Sul, Itália, Espanha e Portugal.

Sim Senhores, há Malbec portuguesa com certeza!! Em nossas pesquisas encontramos um vinho premium produzido na Península de Setúbal, pela José Maria da Fonseca, intitulado Colecção Privada DSF Malbec 2017.

  • Perfil sensorial: cor vermelho intenso. Apresenta notas elegantes de amoras, tâmaras, cereja preta e menta. Muito frutado e taninos presentes.
 

Confesso que fiquei super curiosa para provar esse vinho, pois já degustamos exemplares, mas produzido em terroir português, para nós é novidade!

Roberta Ortolan

Roberta Ortolan

Co-fundadora
Mestra e Doutoranda em Ciências da Cultura,
graduada em Artes, Sommelière ABS-SP/ASI.

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