Leonardo da Vinci e a paixão por vinhos

Atualizado em: 5 de July de 2023

Leonardo da Vinci

Da Vinci, o polímata

Leonardo da Vinci nasceu em 15/04/1452 e para celebrar o mês do aniversariante, trouxemos mais uma peculiaridade desse gênio que vai fazer você arregalar os olhos. 

Entretanto, antes de qualquer coisa, polímata significa: pessoa que possui conhecimento em muitas ciências; conhecimento que não está restrito a um único âmbito científico.

Você sabia que Da Vinci também era especialista em vinhos além de pintor, cientista e inventor?

Da Vinci foi excelente agrónomo e enólogo, criou máquinas para a agricultura, chegou a dar conselhos transformadores e instruções inteligíveis para a vinha e a adega. Tudo isso devido à sua paixão pelo vinho.


Mas… como foi que isso aconteceu?

Tanto a agricultura quanto a enologia eram uma atividade recorrente desde que Da Vinci nasceu, pois sua família era de enólogos na Toscana. Desde pequeno observava as vinhas e foram elas que serviram de inspiração para suas grandes invenções.

O seu vinhedo em Milão, próximo da Igreja Santa Maria delle Grazie, foi a única herança inserida em seu testamento, entretanto, as vinhas foram destruídas durante a II Guerra e, em 2015, replantadas sob uma orientação do enólogo e crítico Luca Maroni.


Ele era muito curioso e muito bom em tudo.

Em relação aos assuntos vínicos ele também se expressava com irreverência e excentricidade. Para ter uma ideia, em 1515, “escreveu uma carta ao seu fazendeiro explicando como produzir um vinho sem defeitos, simples e bom.

E para chegar ao cacho perfeito, deu sugestões precisas sobre a vitivinicultura, desde o cultivo da vinha à vinificação na adega, da fertilização do solo às noções sobre a fotossíntese das folhas
“.


Carta ao Fazendeiro

Publicada em 1828, em Londres, por John William Brown no livro Vida de Leonardo da Vinci, segue a carta traduzida:

De Milão a Zanobi Boni, meu Quinteiro.
Li 9 de Xbre, 1515

As últimas quatro garrafas de vinho não foram como eu esperava e fiquei muito triste. As vinhas de Fiesole, melhores cultivadas, devem dar à Itália um vinho excelente, como o de Ser Ottaviano.

Você sabe que eu já disse que devemos fertilizar as fileiras com as ruínas das velhas paredes demolidas que secam as raízes e os caules, para que as folhas atraiam todas as substâncias úteis ao aperfeiçoamento do cacho.


Além disso, nos nossos dias fazemos o pior: fermentamos o vinho em potes abertos e assim a essência dispersa-se no ar e não sobra senão um líquido sem sabor colorido pela casca e pela polpa; e então a decantação não é feita como deveria e para isso sai um vinho turvo e pesado para o estômago.

Se você e os outros aceitarem esses argumentos, beberemos um excelente vinho.

Que o Senhor nos acompanhe e te guarde,

Leonardo da Vinci


O Método Leonardo®

Não é à toa que ele é conhecido como gênio do Renascimento, pois todos os seus estudos tiveram um propósito maior: aprimorar o conhecimento e a qualidade de vida do ser humano.

Aquele vinhedo que foi deixado no testamento de Leonardo da Vinci e que foi replantado após a destruição da II Guerra, hoje produz os vinhos que levam o seu nome pois a herança é antiga, histórica e original, uma vez que as terras pertenciam à família de Leonardo na área rural da Vinci e recebe o nome de Cru di Villa da Vinci.

As uvas cultivadas são provenientes das vinhas circundantes à propriedade e os vinhos são produzidos segundo as indicações do Método Leonardo®. 


A reconstrução do vinhedo

Vinhedo Leonardo Da Vinci

Foi uma tarefa árdua para reconstruir exatamente o que era. Precisou de enólogo, geneticista e um expert em DNA de castas viníferas. Tiveram que coletar material orgânico escavando o solo e reconstruindo a tipicidade genética da casta. Fizeram comparação com outras plantadas no século XV.

Além disso, através dos desenhos de Leonardo, encontraram o local exato das videiras e como estavam enfileiradas originalmente. Mas não parou por aí, a casta foi cultivada na estufa da Universidade de Milão (área de agronomia e alimentos) e só depois replantaram no local onde estava o vinhedo original de Leonardo 500 anos antes.

Os responsáveis pelo local mantiveram a mesma abordagem de Leonardo com evolução contínua, inovadora, através de muita observação e pesquisa, e principalmente o respeito pela natureza.

Tudo o que é realizado ali é inspirado nos escritos do artista sobre vitivinicultura como a Carta ao Fazendeiro mencionada acima. Ou seja, entre suas pesquisas há uma conhecida como ciência da enologia, porque através da observação minuciosa de todos os “processos naturais que conduzem à maturação plena das uvas, da invenção de ferramentas e técnicas para as transformar em vinho, Leonardo descobriu a forma de obter excelentes vinhos“.


DOCG Chiante Clássico pode receber alterações de região e classificação

Recentemente o presidente do Consórcio Vino Chianti, Giovanni Busi, solicitou ao Ministério da Agricultura italiano que aprovassem, para a região de Chianti, uma nova classificação – DOCG Chianti Clássico e uma nova sub-região – Terre di Vinci.

Isso porque, para o Consórcio, a região vem ocorrendo renovações através das modernizações em sua vitivinicultura desde 1716. Terre di Vinci abrange 4 concelhos de Florença: Capraia e Limite, Ceretto Guidi, Fucecchio e Vinci.

Para Giovanni Busi, tanto a nova área quanto a nova classificação mostram não só o seu desenvolvimento e o reconhecimento como também uma iniciativa positiva para os seus produtores. Além disso é um incentivo para que o alto nível de qualidade dos vinhos seja mantido ou elevado, uma vez que as leis para as subzonas se tornam mais exigentes comparadas às de denominação comum.

Se o Ministério da Agricultura italiano aprovar a solicitação, o intuito de Giovanni Busi é classificar o Chianti DOCG como Gran Selezione. Em outras palavras, esta categoria faria um vinho somente com uvas da região demarcada, a Sangiovese seria a casta com mais porcentagem no vinho, a produtividade seria menor por hectare e o teor alcoólico mínimo seria mais elevado.


O Método Leonardo® pela ótica dos especialistas

Três especialistas do artista escreveram sobre esse método tão visionário e à frente da sua época:

  1. Alessandro Vezzosi em seu livro Il Vino di Leonardo (1991);

  2. Carlo Pedretti, em 2008, publicou um artigo no jornal Corriere della Sera: Leonardo genio tuttofare era anche esperto di vino (Leonardo, o gênio do faz-tudo, também era especialista em vinho);

  3. Luca Maroni no livro Milano È la Vigna di Leonardo (2015).

O Método Leonardo® é um método vivo, em evolução contínua. É uma abordagem feita de conhecimento e experiência através de especificações exclusivas e secretas de produção vitivinícola e de uma análise sensorial otimizada.


Acervo enológico

Os vinhos produzidos pela marca Leonardo da Vinci possuem cinco coleções:

  • Villa da Vinci:  cinco rótulos com suas pinturas próprias, entre eles um Vin Santo;

    Leonardo da Vinci - Villa Da Vinci

  • 1502 Da Vinci na Romagna:  em 1502, ele passou seis meses em Romagna e são também cinco disponíveis nesta região que fornecem seus desenhos criados durante a sua estadia. Entre eles um espumante.

    Leonardo da Vinci - 1502 Da Vinci In Ronagna

  • Da Vinci I Capolavori:  é uma seleção de cinco rótulos das denominações de vinho italianas mais famosas combinadas com suas obras de arte.

    Leonardo da Vinci - Da VinciI Capolavore

  • Leonardo da Vinci:  dez rótulos com o desenho do Homem Vitruviano que representa a expressão máxima da harmonia das proporções anatômicas humanas, ou seja, essa coleção representa a expressão máxima da harmonização de aromas e sabores das uvas da Toscana, Romagna e Trivêneto (Vêneto, Trentino-Alto Ádige e Friuli-Veneza Júlia). Inclui um Prosecco.

    Leonardo da Vinci - Homem Vitruviano

  • Leonardo Geniale: dois rótulos, tinto e branco, com a imagem do gênio no estilo Pop Art de Andy Warhol. Para ele o vinho tinha que ser bebido com moderação e por isso o vinho se apresenta em garrafa de 187,5 ml para quem quer acompanhar as refeições com um bom, perfumado e vinho aromático.

    Leonardo da Vinci - Vinho Geniale


Museus

Museu Renascença do Vinho Leonardo da Vinci
foto: latoscanadileonardo.it | Museu Renascença do Vinho

 Se ficou na curiosidade de dar um passeio na região, pode completar com a visita conhecendo os dois museus em nome de Leonardo da Vinci:  

  • Museo Ideale di Leonardo Da Vinci: totalmente fidedigno à sua complexidade enquanto artista, inventor, cientista e designer. 

  • Museo Leonardo e il Rinascimento del Vino: expõe a autenticidade da relação entre ele e a agricultura, o território, a comida e, claro, o vinho.

Assim, finalizo o post (longo, eu sei!) com o Codex Atlanticus (folha 188) que “Leo” escreveu sobre a concepção espiritual do efeito do vinho no homem:

Já o vinho entrou no estômago … já a alma daquele começa a abandonar o corpo; já se voltou para o céu, encontra o cérebro, causador da divisão do seu corpo … ” (tradução nossa).

Gostou do artigo? Leia mais sobre a estreita relação entre a Arte e o Vinho com a história de Vicente van Gogh .

Fontes: Simonde e Leonardo da Vinci

 

Roberta Ortolan

Roberta Ortolan

Co-fundadora
Mestra e Doutoranda em Ciências da Cultura,
graduada em Artes, Sommelière ABS-SP/ASI.

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