Constellation Brands abandona o setor vinícola

Atualizado em: 8 de March de 2025

Constellation Brands

A gigante do setor de bebidas redefine sua estratégia

A Constellation Brands, uma das maiores produtoras de vinhos dos Estados Unidos, está em processo de desinvestimento total de sua carteira vinícola. Essa decisão ocorre após anos de declínio nas vendas e uma mudança estratégica da empresa para reforçar sua posição no segmento de cervejas. 

Além disso, o movimento reflete tendências mais amplas do setor de bebidas alcoólicas, onde a preferência do consumidor e as dinâmicas de mercado vêm pressionando as grandes vinícolas.

Uma trajetória marcada por aquisições e mudanças estratégicas

Fundada em 1945 na região dos Finger Lakes, em Nova York, a Constellation Brands construiu um império baseado em aquisições de grandes marcas de vinho, como Robert Mondavi, Kim Crawford, Meiomi e Ruffino. 

No entanto, o grande divisor de águas para a empresa ocorreu em 2013, quando adquiriu os direitos de distribuição nos EUA das cervejas Corona e Modelo, anteriormente pertencentes à AB InBev. Esse movimento consolidou a Constellation como uma potência no mercado de cervejas importadas, impulsionando suas receitas e alterando suas prioridades de negócios.

Nos últimos anos, a empresa começou a enfrentar dificuldades no setor de vinhos. Em setembro de 2024, anunciou um prejuízo potencial de US$ 2,5 bilhões devido à baixa performance desse segmento. Com isso, a crescente preferência dos consumidores por alternativas como cervejas artesanais, destilados premium e coquetéis prontos para consumo levou a Constellation a decidir que era o momento de sair do mercado vinícola.

A venda da divisão vinícola: principais envolvidos

A saída da Constellation Brands do setor de vinhos envolve a negociação com duas das maiores empresas do ramo. Por um lado, a Delicato Family Wines assumirá as operações da Constellation no Vale Central da Califórnia.

Sendo a quarta maior vinícola dos Estados Unidos em volume de vendas, a Delicato é reconhecida por marcas como Francis Coppola e 1924. Por outro lado, a The Duckhorn Portfolio, adquirida recentemente pela Butterfly Equity, ficará responsável pelas marcas vinícolas premium da Constellation, incluindo aquelas situadas nas áreas costeiras da Califórnia.

Essa transação se configura como uma das maiores reestruturações do setor vinícola nos últimos anos, refletindo a tendência de consolidação entre grandes vinícolas como estratégia para enfrentar os desafios do mercado. Vale destacar que o consumo de vinho vem enfrentando quedas expressivas, e essa reorganização pode definir novos rumos para a indústria.

O declínio das vendas de vinho nos EUA

Os números mostram que o setor vinícola enfrenta dificuldades estruturais. Em 2024, as vendas totais de vinho nos EUA caíram 6%, de acordo com dados da SipSource. O segmento premium, onde a Constellation operava, registrou quedas ainda mais acentuadas, impulsionadas por fatores como:

  • Mudanças demográficas: o consumo de vinho entre jovens adultos (geração Z e millennials) é inferior ao de gerações anteriores, como os baby boomers.

  • Concorrência com outras bebidas: cervejas artesanais, destilados premium e opções de baixa caloria, como hard seltzers e coquetéis enlatados, ganharam mercado.

  • Preocupações com saúde: consumidores mais jovens demonstram maior preocupação com o consumo excessivo de álcool, optando por bebidas com menor teor alcoólico ou abstinência.

  • Impactos econômicos: a inflação e o alto custo de vida reduziram os gastos discricionários, levando os consumidores a preferirem alternativas mais acessíveis.

Essas mudanças colocaram pressão sobre grandes empresas vinícolas, forçando reestruturações para se adaptarem ao novo cenário.

O foco no setor cervejeiro

Com a saída do setor de vinhos, a Constellation Brands reforçará sua presença no mercado de cervejas. No último trimestre de 2024, enquanto as vendas de vinho caíram 14%, a divisão de cervejas registrou crescimento de 3%, alcançando US$ 2,03 bilhões em receita. 

Esse crescimento foi impulsionado por marcas já consolidadas, como Modelo Especial e Corona Extra, que continuam entre as mais vendidas nos EUA. Além disso, novas opções, como Modelo Oro e Pacifico Clara, vêm conquistando consumidores que buscam alternativas mais leves e refrescantes.

A empresa também investiu na expansão de sua linha de produtos não alcoólicos, com lançamentos como a Corona Non-Alcoholic e o Modelo Aguas Frescas, atraindo um público interessado em bebidas mais saudáveis. 

Outro ponto importante foi o investimento de US$ 1,24 bilhão da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, no último trimestre de 2024. Esse voto de confiança reforça a expectativa de que a empresa continuará fortalecendo sua presença no mercado cervejeiro nos próximos anos.

Impactos da mudança para o mercado vinícola

A saída da Constellation do setor de vinhos pode provocar repercussões importantes no mercado. Por exemplo, espera-se uma maior consolidação do setor, com outras grandes vinícolas seguindo o mesmo caminho e vendendo ativos para focar em segmentos mais lucrativos. 

Isso pode abrir oportunidades para produtores menores e independentes, que terão menos concorrência de grandes corporações e poderão atrair consumidores que buscam rótulos exclusivos e autênticos.

Além disso, as empresas do setor vinícola precisarão adaptar suas estratégias para atender ao novo perfil do consumidor, investindo em inovação e diversificação de produtos.

O futuro do vinho nos EUA

Apesar dos desafios, o setor vinícola tem potencial para recuperação. A inovação será essencial para atrair novos consumidores e garantir a sustentabilidade do mercado. Entre as estratégias que podem impulsionar essa recuperação estão a adoção de novos formatos e embalagens, como vinhos em lata e garrafas menores, que facilitam o consumo casual.

O marketing digital e o uso de redes sociais também desempenharão um papel crucial na atração do público jovem, permitindo que as vinícolas se conectem diretamente com seus consumidores. 

Por fim, a sustentabilidade e a produção de vinhos orgânicos e biodinâmicos podem se tornar um diferencial competitivo, uma vez que os consumidores estão cada vez mais atentos ao impacto ambiental de seus hábitos de consumo.

A saída da Constellation Brands do setor vinícola marca o fim de uma era, mas também representa uma oportunidade para a renovação do mercado. O desafio para os produtores de vinho será inovar e se adaptar às novas tendências, conquistando uma nova geração de apreciadores e garantindo a relevância do vinho no cenário das bebidas alcoólicas. 

Se você quer saber mais sobre as tendências do setor de bebidas, acompanhe nosso blog para atualizações regulares!

Leia também: O que é Maceração Carbônica?

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Eduardo Amorim

Fundador
Enólogo | Doutorando, Mestre e Licenciado em Enologia e Viticultura,
especialização em Ciência Sensorial, Mkt Sensorial e Mkt de Vinhos.

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